Com o desencarne de Divaldo Franco, um dos maiores nomes do espiritismo no Brasil, surgiram questionamentos sobre quem poderá ocupar o posto de referência na doutrina. Ao contrário de outras religiões, como o catolicismo ou as de matriz africana, o espiritismo não conta com uma estrutura hierárquica formal nem com um processo definido de sucessão.
Divaldo, considerado por muitos como o sucessor natural de Chico Xavier, deixa um legado marcante, mas sem um substituto direto. Para o presidente da Federação Espírita do Estado da Bahia (FEEB), Marcel Mariano, não há espaço para comparações. “Divaldo e Chico são personalidades raras que surgem de tempos em tempos na Terra. São únicos”, afirma. “O movimento continua desfalcado de uma figura extraordinária, porque Divaldo emprestou brilho, carisma e trouxe respeito ao espiritismo como a gente nunca viu.”
A ausência de uma sucessão direta também é reconhecida por Mario Sérgio Pintos Almeida, presidente da Mansão do Caminho, instituição fundada por Divaldo em Salvador. “Não existe uma sucessão. Não existe alguém. Nós, aqui na Mansão, não temos ninguém nem parecido com o Divaldo Franco. Mas a obra continua. Sem dúvida, a obra continua”, declara.
A estrutura do espiritismo é descentralizada. Os centros espíritas funcionam de maneira autônoma, geralmente liderados por pessoas mais experientes ou fundadores das casas. A figura do “líder nacional” é inexistente, o que torna a ascensão de um novo nome um processo mais espontâneo do que institucionalizado.
“Dentro da doutrina espírita temos a visão da reencarnação, na qual temos múltiplas existências. Espíritos que atingiram um patamar de evolução podem retornar como missionários”, explica Leonardo Machado, médico psiquiatra e diretor do núcleo de psiquiatria da Mansão do Caminho.
Ainda que não exista um cargo oficial a ser ocupado, nomes de grande relevância podem surgir naturalmente, com base na dedicação, oratória e atuação social. “Divaldo Franco foi o último dos grandes médiuns existentes no mundo. No futuro, teremos outros espíritos que chegarão para continuar orientando a humanidade”, acredita Mario Sérgio.
Para José Medrado, médium e fundador do Centro Espírita Cidade da Luz, o legado de Divaldo vai além da mediunidade. “Ele foi ponto de referência para milhares de oradores espíritas. As pessoas começavam as pregações imitando ele, buscando ele como referência.”
Sem sucessor definido, o espiritismo entra agora em uma nova fase, onde o caminho será traçado coletivamente pelas instituições, trabalhadores e médiuns que seguem difundindo a doutrina no país e no mundo.
Fonte:alojuca